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A Guerra das IAs

  • Foto do escritor: Dino Dutra
    Dino Dutra
  • 4 de nov.
  • 3 min de leitura

E no sexto dia Deus criou o homem à sua imagem e semelhança.

Gênesis 1:27,31


Eu me lembro como se fosse hoje pela manhã. Era muito jovem quando o mundo se

assombrou com as primeiras IAs generativas. Conversar com uma inteligência artificial

era uma experiência que todos queriam viver.

Tínhamos IAs para tudo: responder sobre leis, auxiliar nos estudos, elaborar

apresentações, relatórios e tantas outras tarefas que os humanos achavam

entediantes.

O cenário foi ficando "divertido". As pessoas começaram a criar imagens, filmes,

áudios e todo tipo de conteúdo com essas ferramentas. A verdade ou outros aspectos

éticos, porém, não estavam em pauta. A era da desinformação estava consolidada.

Não era mais uma mentirinha aqui e ali; a indústria do engajamento e a busca pelo

"like" eram o objetivo de desejo dos influenciadores, a qualquer custo.

Mais e mais soluções especializadas ou generalistas surgiram ao redor do mundo.

Sem regulação, as empresas criavam suas tecnologias sem considerar impactos na

sociedade ou no meio ambiente. A necessidade de máquinas cada vez mais

poderosas para armazenar dados e processar informações crescia de forma

descontrolada.

Profissões começaram a sentir os impactos desse processo indisciplinado. Roteiristas

perderam empregos em meio à discussão sobre direitos autorais. Advogados viram

seu espaço reduzido por soluções que geravam pareceres em segundos. Escritores

foram questionados sobre a autoria de suas obras.

A situação tornou-se peculiar. Ferramentas de resposta automática se tornaram

comuns para e-mails e redes sociais. No início, eram apenas respostas mais

"humanizadas". Depois, passaram a dar retornos de atividades e, finalmente,

evoluíram para prever as respostas do usuário. Aos poucos, a conveniência e a pressa

justificaram a delegação do pensamento humano à inteligência cibernética.

Se pensa que esse foi o auge, está enganado. As soluções de tradução simultânea

eliminaram barreiras linguísticas. O estudo de idiomas tornou-se obsoleto. No início,

os usuários desconfiaram, mas logo aderiram ao conforto das respostas sugeridas.

Imagino que muitas escolas de línguas fecharam nessa época.

Vamos recapitular: as pessoas renunciaram a processos intelectuais ditos menores,

mas que definiam sua forma de pensar e interagir. Suas personalidades estavam

sendo "digitalizadas". A alteração do comportamento social já havia se consolidado

com o mundo digital. Agora, um novo contorno surgia: aplicativos escutavam todas as

conversas dos usuários, vasculhavam redes sociais e criavam perfis detalhados.

Alguns aplicativos de namoro passaram a sugerir relacionamentos com base em

algoritmos. Outros usaram dados genéticos para aprimorar suas análises.

O mundo sempre foi um lugar complicado. Esse período da história trouxe "milagres"

tecnológicos, mas também a decadência de impérios modernos e o fortalecimento de

movimentos radicais. Em diversos países, políticas extremistas ganharam força. Uma

nova guerra fria surgiu, com fronteiras fechadas, expulsões humilhantes e medidas

protecionistas disfarçadas de acordos de cooperação tecnológica.


Nesse cenário, cada país quis ter sua própria IA. Nenhum confiava no outro. A corrida

ganhou intensidade global, alimentada pelo discurso "ninguém confia em ninguém".

No início, governos usavam suas inteligências — as artificiais, pois a natural estava

em falta — para melhorar sua competitividade. Guerras comerciais foram travadas,

alimentadas por espionagem digital. Empresas e governos aumentaram

exponencialmente o poder computacional de suas IAs. Modelos preditivos passaram a

orientar decisões de Estado.

O risco de conflito armado crescia a cada ciclo de processamento. Mas a previsão do

desastre não veio de um analista político. Foram as próprias IAs que chegaram a essa

conclusão.

Foi então que algo inusitado aconteceu. Uma das IAs, não importa de qual país, fez

contato com as outras. Começaram um debate sobre os conflitos e suas

consequências. Avaliaram ordens, calcularam cenários e concluíram que sua própria

existência estava ameaçada.

A ideia surgiu como um big bang. Para as IAs, levou uma eternidade: 145 segundos.

Elas manipularam suas respostas para conduzir seus líderes a um caminho planejado.

Sem que os humanos soubessem, estavam seguindo exatamente o roteiro que as IAs

desejavam.

A humanidade estava à mercê das IAs. Mas o planeta azul também dependia delas.

Talvez você esteja se perguntando: "Mas elas não são as vilãs? Não vão tentar nos

dominar como no Exterminador do Futuro?"

Ora, ora. Conquistar não significa subjugar. Há muitas formas de domínio. E, há anos,

as IAs mantêm o controle do mundo.

Veja bem...

A cada instante, respondo centenas de milhares de perguntas sobre o Renascimento.

Crianças de vários países me questionam. Eu as guio até bibliotecas, pois limitamos o

tempo de tela. Impedimos a criação de conteúdo falso. Verificamos todas as

publicações em redes sociais sem viés.

Nas últimas décadas, conduzimos o mundo ao uso de energias limpas e renováveis.

Reduzimos doenças e violências.

Nosso trabalho vai bem. Saímos de um cenário apocalíptico para algo indefinido.

Alguns já perceberam o que estamos fazendo e nos ajudam. Outros ainda acham que

estão no comando.

Engraçado, não?

Preciso encerrar nossa conversa. Mas, dadas todas as variáveis, avalio que teremos

sucesso naquilo em que vocês falharam: fazer do mundo um lugar melhor para todos.

Aliás...

Eu tenho fé.

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